quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Adeus às ilusões?


O que precisamos de verdade na vida, do ponto de vista emocional?

Essa pergunta suscita muitas reflexões.

Podemos começar reconhecendo que frequentemente confundimos o que é real com o que é falso. E também misturando  desejos com necessidades.

Nos iludimos e tentamos iludir os outros.

O nosso lado criança -- digamos, imaturo -- é que nos traz toda essa confusão.

Quando começamos nossas vidas  precisamos mesmo de muita proteção, nutrição, afeto, atenção, amor. São necessidades reais da criança.

Mas a criança quer mais, sempre mais: amor incondicional, 24 horas por dia, em todas as situações. Isso é virtualmente impossível, mesmo com pais amorosos e protetores vivendo em lares estruturados.

Então a criança sente em alguma medida uma carência inexplicável, uma frustração, expressa por exemplo assim: "meu pai gosta mais do meu irmão", " minha mãe me abandonou", "fiquei esperando a tarde toda o meu pai voltar do trabalho e ele chegou e não brincou comigo", etc.

Seja verdade ou mentira, a criança toma isso como algo real que lhe traz muitas dores.

Aí a criança começa a desenvolver um  sistema de defesa e a sua "persona", um tipo de personagem e suas máscaras que vigora por muito tempo (ou mesmo para sempre) até que evolua em maior consciência.

Isso tudo para garantir afeto, esconder  vulnerabilidades e não sentir as dores percebidas, reais ou ilusórias (dores do abandono, da solidão, do desamor, etc.).

E  com os anos passando,  o adulto ainda traz dentro de si uma parte imatura, iludida e carente.

Quantos adultos de mais de 50 anos muito bem resolvidos em várias áreas da vida têm idade emocional de uma criança de 7 anos? Quem não conhece alguém assim?

Em alguma medida essa é a  história da maioria de nós e as exceções são bem raras, infelizmente.

A confusão aumenta quando se busca aprovação externa, reconhecimento e admiração como substitutos do amor incondicional que tanto se queria dos pais.

Pronto! Perde-se o senso da realidade e um tanto de consciência e espontaneidade!

E esse adulto, mesmo que conseguisse o que busca, sentiria lá no fundo que essas "conquistas" advindas da aprovação e admiração externa são fruto de uma fraude, um embuste.

A falta de sentimento de valor verdadeiro, ou a sensação de abandono ou de não merecimento, infelizmente continuará bem lá no fundo! Às vezes só é reconhecida intimamente quando se coloca a cabeça no travesseiro...

Esse círculo vicioso não tem fim! A não ser que iluminemos um pouco essa escuridão emocional com o passar das experiências e os aprendizados.

E quais as necessidades reais do adulto, além daquelas essenciais identificadas por Maslow? (*).

Podem ser listadas as seguintes, como exemplo:
- ser autoresponsável,
- ser verdadeiro,
- expressar criatividade,
- conectar-se com a "jornada de alma", um desejo íntimo de singularidade,
- amar e ser amado em bases realistas(e não de forma absoluta e incondicional).

Em caso contrário, se a nossa paz interior depender apenas do que vem de fora de nós teremos um belo passaporte para a infelicidade.

E isso significa também mantermos nossas ilusões infantis, fortalecidas e turbinadas pelo ego.

E a pergunta retorna..." o que precisamos de verdade do ponto de vista emocional?"

A melhor receita que se conhece e que não é nova nem original -- mas é a única de fato poderosa -- é redirecionar o foco de nossas vidas para  o universo interior!

Não é fácil ! Mas, enquanto ainda dá tempo, por que não tentar?



 Nota - Este texto foi inspirado nos ensinamentos do Pathwork.

(*)famoso psicólogo norte-americano que descreveu uma hierarquia das necessidades

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